Distinguiu-me o historiógrafo Domingos de Azevedo Ribeiro com a salutar honraria de prefaciar o seu valiosíssimo estudo biográfico a que denominou de CLÓVIS LIMA, GLÓRIA DE UMA GERAÇÃO. Conquanto a distinção sob enfoque seja causa de imensurável agradecimento, põe-me a ombros com a grande responsabilidade de apresentar um trabalho de uma das figuras reluzentes no universo de pesquisadores do Estado, que tem assento na Cadeira n.º 36, do Instituto Histórico e Geográfico Paraibano. Começarei, portanto, relembrando que eu e Domingos tivemos, assim como muitos outros tiveram, a oportunidade de conhecer o doutor Clóvis Lima. Entretanto poucos tiveram, como privilegiadamente tivemos, a felicidade de gozar da sua amizade. E falo de amizade na expressão mais pura desse sentimento, onde se amalgamam a lealdade, a confiança e o respeito recíprocos. O meu conhecimento com o doutor Clóvis Lima data do tempo em que fazia o Curso de Direito, na Faculdade de Ciências Jurídicas e Sociais, da Universidade Federal da Paraíba. Era ele professor titular da disciplina Direito do Trabalho. Tive como colega de faculdade o seu filho Roberto Adamastor Lima, com quem já estudara, também, durante o curso ginasial, no Colégio Pio X. De modo que a minha sólida amizade com Roberto serviu de lastro àquela que me ligaria depois ao Dr. Clóvis Lima e que mais se aprimorou quando ingressei, por concurso público, na Justiça do Trabalho, precisamente à época em que o Dr. Clóvis Lima era o Presidente do Tribunal Regional do Trabalho da 6ª Região, com sede em Recife e jurisdição nos Estados de Pernambuco, Paraíba, Alagoas e Rio Grande do Norte. Fui designado para trabalhar em João Pessoa, auxiliando, como Juiz Substituto, os presidentes da 1.ª e da 2.ª Juntas de Conciliação e Julgamento, órgãos dessa justiça especializada então existentes nesta Capital. Foi ali, no Fórum Maximiano Figueiredo que conheci Domingos de Azevedo Ribeiro, o qual era Vogal representante dos empregados na composição da 1ª Junta de Conciliação e Julgamento de João Pessoa. Brotou da nossa convivência cotidiana no trabalho, a minha amizade com Domingos, jóia que trago, desde então, com muito apreço. Domingos também já conhecia o Dr. Clóvis Lima de há muito tempo, era seu dedicado amigo e vibrante admirador. Isso mais cimentou a nossa amizade que nunca sofreu, em tempo algum, qualquer abalo. Gostávamos de, vez por outra, determo-nos a estudar a multifacetada intelectualidade de Clóvis Lima, o homem que sabia ser juiz, agir como administrador, se impor como professor, se distinguir como pesquisador e manter aquela firmeza de conduta e aquele rol de admiradores que somente uns poucos iluminados conseguem fazê-lo. Comentávamos a dedicação do doutor Clóvis Lima ao direito e, em especial à Justiça do Trabalho, o que era de franca percepção desde os primeiros dias em que fora investido na magistratura obreira. Com efeito, tendo largado as lides da justiça comum onde exercera, inclusive, o cargo de Promotor de Justiça, entregou-se de corpo e alma ao aprofundado estudo e à distribuição da justiça obreira, a partir do momento em que assumiu a presidência da Junta de Conciliação e Julgamento de João Pessoa no dia 1.º de maio de 1941. Exerceu com dedicação tamanha esse novo mister que doze anos depois reuniu alguns dos seus esmerados julgamentos e publicou-os sob o título JULGADOS TRABALHISTAS NA INFERIOR INSTÃNCIA. O livro que os reuniu foi composto e impresso na Tipografia ANDRADE que estava localizada na Avenida Capitão José Pessoa, n.º 230, nesta Capital. Não tenho conhecimento do número de exemplares que constituiu a tiragem dessa importante obra. Mas consta que a sua edição foi dentro de pouco tempo esgotada. Releva salientar que Clovis Lima já havia escrito anteriormente uma plaqueta tratando de tema também relevante nessa área do direito social. Tal ocorrera no ano de 1946 e o estudo recebeu o título: ÊXODO DOS TRABALHADORES RURAIS. Mas Clóvis Lima era homem dotado de inteligência invulgar e de vasta e reconhecida cultura. Por isso também palmilhava a senda da história fascinado pela pesquisa dos fatos e dos personagens que a enriqueciam, mormente em relação aos episódios que marcaram época na pequenina e indômita Parahyba do Norte. Pesquisou e escreveu sobre JOÃO DOMINGUES DOS SANTOS e deu a lume o panegírico estudo que ostentou esse nome. Destacou em outra obra, editada em 1948, o que chamou de FATOS E EPISÓDIOS DO DOMÍNIO COLONAL HOLANDÊS NA PARAÍBA. Dedicou-se à investigação iconográfica, fascinado pelas inscrições rupestres que conheceu no interior do estado e cujas observações lançou na plaqueta que intitulou de AS ITACOATIARAS DO INGÁ. (1948) Realce-se, ainda, que dedicado como sempre foi ao magistério, também enveredou pelo cultivo dessa seara e nos deu uma visão do que era, até a década de 40 do século passado, O ENSINO COMERCIAL NA PARAÍBA. (1948) Ora, todos esses fatos serviam de argamassa à nossa admiração por Clóvis dos Santos Lima, àquela altura Presidente do Tribunal Regional do Trabalho da 6.ª Região que jurisdicionava os quatro estados do nordeste já mencionados, o que também se constituía em destaque para a Paraíba. Mas a morte armou uma emboscada e tirou do nosso convívio o doutor Clóvis dos Santos Lima. Esse acontecimento nos encheu de profunda tristeza e nos fez parceiros da imensa dor sofrida por seus familiares, demais amigos e admiradores. A partir daí começamos o trabalho de preservação da memória de Clóvis Lima, que, pelo que serviu e significou para a Justiça do Trabalho na Paraíba, era a própria memória dessa Justiça no nosso Estado. Domingos muito nos ajudou nessa campanha e municiou esse trabalho. Hoje o Memorial da Justiça do Trabalho na Paraíba é uma realidade. E ali se encontra um capítulo inteiramente dedicado a Clóvis dos Santos Lima, o Patrono de Domingos de Azevedo Ribeiro na Cadeira n.º 36 do vetusto Instituto Histórico e Geográfico da Paraíba. O presente escorço biográfico que Domingos de Azevedo Ribeiro intitulou de CLÓVIS LIMA, GLÓRIA DE UMA GERAÇÃO vem, com certeza, subsidiar e complementar aquele capítulo, razão por que deverá integrá-lo, como medida da mais salutar justiça. O autor faz aqui um meticuloso enfoque de Clóvis dos Santos Lima sob os mais variados aspectos, tais como o administrativo, o político, o humanístico, o social, o intelectual, o pedagógico, o jurídico e o afetivo. É um burilado e interessante trabalho de pesquisa que enriquecerá o arquivo das celebridades da Paraíba e, porque não dizer, do Brasil? A decantada seriedade do historiador Domingos de Azevedo Ribeiro provocará decerto o mergulho dos pesquisadores nas entranhas gráficas desta plaqueta, deleite do qual não devo nem ousaria privá-los. Fico, pois, no rabisco destas toscas palavras de preâmbulo que terão na benevolência do autor e na tolerância dos argutos leitores a sua maior recompensa. João Pessoa, outubro de 1999. Ruy Eloy Juiz Presidente do Tribunal Regional do Trabalho da 13. ª Região |
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