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MORMAÇO GRANDE, SEM VERGONHICE MAIOR

postado em 29 de nov. de 2013, 12:56 por Pedro Moita
Era dia de feira semanal na sede da comarca, princípio do ano de 1972. O Juiz sentado à mesinha do escritório que improvisara em casa folheava o calhamaço enorme de uma ação civil e dedilhava na sua máquina de escrever as palavras com que ia compondo o correspondente relatório. De repente ouve um leve bater de palmas e a sua esposa que estava na sala se dirige à porta de entrada da casa para inteirar-se de que se tratava.
Era um casal de granjeiros, o homem sessentão e a mulher cinquentona, ambos matutos e bem parecidos. A mulher foi logo dizendo que desejavam falar com o juiz pois tinham um caso muito importante para ele resolver. A esposa do magistrado ponderou que voltassem mais tarde pois o juiz estava recolhido ao gabinete estudando um processo trabalhoso e lhe tinha dito que só o chamasse para o almoço ou se tratasse de um caso de urgência. A mulher disse que o caso era muito importante, tinham vindo de longe para falar com o Juiz e não retornariam sem terem falado com ele, que ela desculpasse aquela “impertinência”…A essa altura, aturdido pelo tom de voz da súplica da mulher o Juiz abriu a porta do escritório e mandou que os dois entrassem e dissessem o que pretendiam.
Ficou o casal em pé diante do juiz, pois não havia cadeiras no escritório além daquele em que o magistrado assentava. O homem e a mulher se entreolhavam, mas nada diziam. O juiz esperava pacientemente e o homem, encabulado e emudecido, segurava o chapéu com as duas mãos à altura da cintura e o manejava em movimentos circulares.
O juiz para quebrar o silêncio perguntou: - Então, o que o senhor e a senhora desejam?
O homem permanecia calado, um tanto trêmulo, quando a mulher lhe deu uma ligeira cotovelada e disse-lhe: - Fala homem, fala logo senão eu…
O homem adiantou-se um pouco e aproveitando a deixa da canícula que caía sobre a cidade aventurou-se: - É, doutor, o mormaço tá grande!
A mulher não mais se conteve e disparou: - Mais grande foi a tua sem vergonhice, velho. E isso tu ainda não contaste ao doutor! Olhe seu doutor me dê licença, mas nós estamos aqui porque esse velho, meu marido, não se deu respeito e buliu com uma moça que teve depois um menino dele. A sem vergonha é de maior e se queixava que era moça. Moça uma ova! Mas deixando pra lá, doutor, o certo é que eu cuidei da criança, quero bem à inocente e como nós nunca tivemos filho queremos registrá-la como nossa filha legítima. A bichota da mãe tá de acordo. O que devemos fazer?
O Juiz teve que explicar pacientemente que se fosse feito o registro como eles queriam poderia posteriormente ser questionado pela mãe verdadeira. Não soube depois se contentaram-se com a explicação dada ou se correram o risco e efetuaram o registro pretendido.
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